“Você precisa fazer dieta já!” me disse um senhor simpático enquanto me oferecia lugar para sentar. Eu, obviamente, fiquei confusa. Uma agressão gordofóbica totalmente inesperada me acertou em cheio o peito enquanto recebia uma gentileza de um completo desconhecido. Ambos, ataque e gentileza, vindas da mesma pessoa e concomitantemente. Eu, a única destinatária. Machucou, claro, mas não tanto quando machucava em 1996 quando tinha 13 anos e, pelo menos, 40 quilos a menos.
Mas ainda dói num lugar que poucas pessoas podem entender, a não ser aquelas que também sofrem este tipo de violência. Eu jamais poderia enumerar todas as vezes que escutei isso, nem nomear todas as pessoas que já me falaram, desde transeuntes que se incomodavam ao me ver passar de bicicleta às pessoas que eu mais amo. Todas elas, seguramente, “preocupadas com minha saúde”. Nenhuma delas jamais me perguntou sobre meu colesterol, triglicérides ou outros exames clínicos antes de disparar o projétil. Ao me notarem desagradável aos seus olhos, elas imediatamente pressupunham que eu estava doente. Não obstante, nenhuma delas jamais considerou minha saúde mental e emocional ao me metralhar com suas preocupações violentas e gordofóbicas.
Foi somente quando parei de me falar que eu precisava de dieta que pude me levantar do lodo da humilhação e sentir algum orgulho de ser esta mulher livre, inteligente, foda e gostosa que sou! Graças a Deusa sempre tive a poesia ao meu lado e foi ela e somente ela que me acolheu quando eu queria literalmente acabar com minha vida por não ter um corpo socialmente aceito - e foram tantas as vezes, viu… Mas ninguém nunca soube. Ninguém nunca perguntou se eu tinha pensamentos suicidas. O que importava era o tamanho dos meus braços e minhas coxas, imorais para serem exibidos em sociedade.
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